domingo, 18 de março de 2007

Cronologia: O regime republicano de 1910 a 1915

1910
Outubro, 5 - Instauração do regime republicano. O Exército, sobretudo o seu corpo de oficiais, não participou, de facto, nem a favor nem contra a insurreição. É organizado um governo provisório presidido por Teófilo Braga.Outubro, 6 - Proclamação da República no Porto.
Outubro, 8 - São promulgados os decretos que expulsam os Jesuítas e encerram os conventos, tanto os masculinos como os femininos.
Outubro, 9 - Os presos pertencentes a associações secretas são libertados. O objectivo é libertar os membros da Carbonária, a organização bombista republicana.
Outubro, 10 - As perseguições religiosas, durante a primeira semana de governo republicano, fazem com que nas prisões de Lisboa estejam encarcerados 128 padres e 233 freiras, tendo sido assassinados dois padres lazaristas.
- As perseguições políticas em Lisboa produzem a destruição dos jornais Liberal, do partido progressista, e Portugal, católico.
- José Relvas é nomeado ministro da fazenda, devido à recusa de Basílio Teles em tomar posse.
Outubro, 12 - É criada a Guarda Nacional Republicana, novo nome dada às Guardas Municipais de Lisboa e Porto. A criação da Guarda tinha como objectivo retirar ao exército, encarado como a Nação em Armas, a função de defesa do regime, e de manutenção da ordem pública. Esta divisão de tarefas nunca existiu na prática.
Outubro, 14 - A família real chega a Inglaterra, após passagem por Gibraltar.
- O jornal a República Portugueza começa a circular, defendendo a instauração de uma ditadura revolucionária, contra os provisórios - membros do grupo que domina o governo provisório - e os adesivos - os convertidos ao regime considerados oportunistas. Os seus criadores são antigos cabecilhas da greve académica republicana de 1907, e entre eles conta-se Alfredo Pimenta, Francisco Pulido Valente, Manuel Bravo e Tomás da Fonseca.
Outubro, 17 - Criação de uma comissão para estudar a reorganização do exército. Irá tentar-se criar um exército miliciano, mas de facto o núcleo profissional irá manter-se inalterável. A Policia Civil de Lisboa adopta o nome de Policia Cívica.
- Na Universidade de Coimbra a Sala dos Capelos é destruída, e os retratos dos reis D. Carlos e D. Manuel baleados, no decurso de uma manifestação contra os professores monárquicos e a universidade fradesca.
Outubro, 18 - O ensino da doutrina cristã é abolido, assim como o juramento religioso em actos oficiais. Os títulos nobiliárquicos são abolidos.
Outubro, 19 - Manuel de Arriaga é nomeado reitor da Universidade de Coimbra..Outubro, 20 - O Núncio Apostólico abandona Lisboa.
Outubro, 21 - O bispo de Beja é suspenso das suas actividades apostólicas, devido ao abandono da sede episcopal, o que tinha acontecido por ter sido ameaçado de morte. Será destituído em 18 de Abril de 1911.
Outubro, 22 - O Brasil e a Argentina são os primeiros países a reconhecer oficialmente a República Portuguesa. O ensino da doutrina cristã é proibida no ensino primário.
Outubro, 23 - O foro académico é abolido, assim como a obrigatoriedade do uso de capa e batina.
Outubro, 26 - Os dias santificados são abolidos, com a excepção do Domingo, passando a ser considerados dias de trabalho.
Outubro, 27 - Aparecimento do Correio da Manhã, organizado por jornalistas franquistas e que se assumem «representantes das classes conservadoras».
Novembro, 3 - É promulgada a lei do divórcio.
Novembro, 10 - A Grã-Bretanha reconhece de facto a República portuguesa, quando desembarca em Lisboa o novo embaixador.
Novembro, 11 - Continuando as perseguições por motivos religiosos, Afonso Costa propõe a divulgação dos nomes e das biografias dos jesuítas que viviam em Portugal.
Novembro, 12 - Surge o jornal O Intransigente, o órgão dos verdadeiros carbonários, dirigido por Machado Santos.
Novembro, 15 - Greve dos trabalhadores da Carris, que deu início a uma vaga grevista.
Novembro, 22 - Brito Camacho é nomeado ministro do Fomento, nova denominação para o ministério das Obras Públicas, substituindo António Luís Gomes.
Dezembro, 1 - A Bandeira Nacional republicana é inaugurada.
Dezembro, 6 - O direito à greve e ao lock-out é severamente restringido, por um decreto que ficará conhecido pelo decreto burla.
Dezembro, 25 - É instituído o casamento civil, e promulgada uma «Lei da Família».
Dezembro, 31 - As associações religiosas são reguladas, proibindo-se o exercício do ensino e a utilização pública de hábitos talares aos seus membros.
1911
Janeiro, 6 - António José de Almeida apresenta um projecto de regulamentação do horário de trabalho, que não é aprovado pelo conselho de ministros, ameaçando demitir-se. O projecto visa dar resposta à principal revindicação dos movimentos grevistas.
Janeiro, 7 - Greve geral dos ferroviários, que termina o movimento grevista iniciado em 15 de Novembro de 1910. A resposta da GNR aos piquetes e manifestações sindicais é normalmente violenta.
Janeiro, 8 - Continuação das perseguições políticas com assalto às redacções dos jornais monárquicos de Lisboa, Correio da Manhã, O Liberal e Diário Ilustrado.
Janeiro, 10 - Regulamentação do descanso semanal obrigatório ao Domingo.
Janeiro, 11 - António José de Almeida aparece na Assembleia Geral dos Caixeiros, no Ateneu, e informa que se tenciona demitir devido à oposição de Afonso Costa e Brito Camacho ao seu projecto. Organiza-se uma manifestação que, dirigindo-se para o Terreiro do Paço, exige a sua permanência no governo. Teófilo Braga, o presidente do governo provisório, aceita, «em face da atitude do povo».
Janeiro, 15 - Começa a ser publicado o jornal República, dirigido por António José de Almeida.
- A Carbonária manifesta-se em Lisboa contra o movimento grevista, fazendo desfilar os chamados batalhões de voluntários da República.
Janeiro, 21 - O culto católico é proibido na capela da Universidade de Coimbra.
Fevereiro, 1 - Continuação da repressão política, com a destruição do Centro Académico de Democracia Cristã.
Fevereiro, 15 - É criada uma comissão para estudo da reforma da ortografia.
- João Chagas demite-se da junta consultiva do partido republicano, devido à nomeação de José Relvas e Brito Camacho para o Governo provisório.
Fevereiro, 17 - Continuam as perseguições políticas, com ameaças a Sampaio Bruno, que o levou a susper a publicação do Diário da Tarde, jornal que tinha fundado no Porto, e começado a sua publicação em 2 de Janeiro. Sampaio Bruno partiu para o exílio em Paris, depois de ter sido ameaçado pelo novo governador civil republicano do Porto.
Fevereiro, 18 - É instituído o Registo Civil obrigatório, com encerramento dos registos paroquiais.
Fevereiro, 23 - Numa pastoral colectiva, divulgado sem pedido prévio de autorização ao governo, os bispos portugueses tomam posição contra as medidas de laicização tomadas pelo governo até ao momento.
- Continuam as perseguições políticas, com confrontos, no Porto, entre republicanos e católicos, membros do Centro Católico e da Associação Católica.
Março, 2 - Lei do recrutamento. Instaura teoricamente, mas não de facto, o recrutamento universal. O sistema oficial das remissões - pagamento de um substituto - acaba, mas é substituído pelo sistema - corrupto - de pagamento para se ficar «não apto».
Março, 3 a 7 - Conflito entre Afonso Costa, que enquanto ministro da Justiça estava encarregado de supervisionar os Cultos, e os bispos devido à pastoral de 23 de Fevereiro, que o ministro queria ter censurado previamente, afirmando que negava o beneplácito do governo, o antigo beneplácito régio, vindo do século XIV.
Março, 14 - Promulgação da Lei eleitoral. O sufrágio universal, uma das principais bandeiras do partido republicano, não é estabelecido.
Março, 22 - São criadas as Universidades de Lisboa e do Porto, e criada uma Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, em substituição da Faculdade de Teologia, extinta.
Março, 29 - Reorganização do ensino primário, criando-se o ensino oficial infantil, novo nível de ensino que de facto não é posto em prática.
Abril, 20 - É promulgada a Lei de Separação entre o Estado e a Igreja. Os bens da igreja são nacionalizados e o culto supervisionado. O Vaticano cortou relações com Portugal devido a esta lei.
3 de Maio - Publicação do Decreto de organização da Guarda Nacional Republicana. Rapidamente começará a intervir na vida política.
22 de Maio - Institucionalização do Escudo como moeda oficial, em substituição do real. Não se trata de uma reforma monetária mas sim de uma alteração do processo de conta.
25 de Maio - Decreto de reorganização do Exército. Previa a existência de 8 divisões e 1 brigada de cavalaria, com um quadro permanente de 1.773 oficiais e 9.926 praças. O serviço militar devia ser geral e obrigatório. Os mancebos passavam por uma escola de recruta, de 15 a 30 semanas, sendo chamados quase todos os anos (7 em 10) para as escolas de repetição, que duravam 2 semanas. Criavam-se também escolas de quadros, que formariam os futuros oficiais milicianos.
28 de Maio - Realizam-se as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte.
19 de Junho - Abertura da Assembleia Constituinte, composta de 229 membros. Sanciona a implantação da República e a abolição da Monarquia. Estabelece as cores e o desenho da Bandeira Nacional e adopta a Portuguesa, de Alfredo Keil, como Hino Nacional
- Os Estados Unidos da América reconhecem a República Portuguesa, sendo a primeira potência com algum significado a fazê-lo.
21 de Agosto - Promulgação da Constituição da República.
24 de Agosto - Eleição do Presidente da República. O escolhido, pelo colégio eleitoral formado pelas duas câmaras da Assembleia, é Manuel de Arriaga, que exercerá o cargo até Janeiro de 1915.
- A França reconhece a República portuguesa, sendo o primeiro país europeu a fazê-lo
25 de Agosto - A Constituição entra em vigor.
3 de Setembro - Nomeação do primeiro Governo Constitucional da República, dirigido por João Chagas, mas com a oposição do grupo liderado por Afonso Costa.
11 de Setembro - Reconhecimento conjunto da República portuguesa pelas grandes potências europeias, todas monárquicas: Grã-Bretanha, Espanha, Alemanha, Itália e Áustria-Hungria.
12 de Setembro - A reforma ortográfica é instituída.
21 de Setembro - O Partido Republicano Português cinde-se em quatro tendências: democráticos ou radicais, dirigidos por Afonso Costa, unionistas, dirigidos por Brito Camacho, evolucionistas, de António José de Almeida e independentes.
5 de Outubro - Primeira incursão monárquica, comandada por Paiva Couceiro, em Trás-os-Montes. O ministro da guerra, general Pimenta de Castro, será exonerado dia 8 de Outubro seguinte, devido a divergências com João Chagas, presidente do Conselho de Ministros. Será substituído pelo major Alberto da Silveira.
20 de Outubro - António José de Almeida, ministro do interior, é vaiado no Rossio, abandonando o Partido Republicano.
27 a 30 de Outubro - Congresso do Partido Republicano Português. A direcção eleita é da confiança de Afonso Costa. A partir do Congresso passará a ser conhecido por Partido Democrático.
4 de Novembro - O governo de Angola pede auxílio a Lisboa para pôr cobro à rebelião instalada no planalto de Benguela, assim como no Bié, Lunda e Norte do Cassai.
13 de Novembro - Nomeação do segundo governo da República, dirigido por Augusto de Vasconcelos. Sobreviverá até 16 de Junho de 1912.
Dezembro - Realiza-se o recenseamento da população portuguesa. A população ascendia a 5.950.056 habitantes. 80% trabalhava na agricultura e 75% era analfabeta.
1912
14 de Janeiro - A perseguição anti-clerical continua, com a proibição dos bispos de Coimbra e Viseu residirem no distritos das suas dioceses.
28 a 30 de Janeiro - Greve geral em Lisboa de apoio aos trabalhadores do Alentejo. A resposta do governo levou ao encerramento de todas as sedes sindicais, declaração do estado de sítio e suspensão de todas as garantias constitucionais no distrito de Lisboa.
31 de Janeiro - Forças militares e da carbonária tomam de assalto a União dos Sindicatos. Os presos são enviados para bordo da fragata D. Fernando e do transporte Pêro de Alenquer.
7 de Fevereiro - O governo britânico desmente os boatos, postos a circular pelo embaixador português Teixeira Gomes, que davam como certo um acordo entre o Reino Unido e a Alemanha para divisão das colónias portuguesas de África.
24 de Fevereiro - António José de Almeida funda o Partido Evolucionista.
26 de Fevereiro - Brito Camacho funda o partido unionista - Partido União Republicana.
5 de Março - António José de Almeida apresenta um projecto de amnistia, que englobaria os monárquicos presos por atentarem contra o regime republicano. A proposta serviu de apresentação do partido evolucionista, e foi recusada.
15 de Abril - O Presidente do Ministério e ministro dos negócios estrangeiros, Augusto de Vasconcelos, garantiu na Câmara dos Deputados não existir nenhum tratado entre a Inglaterra e a Alemanha «de natureza a ameaçar a independência, a integridade e os interesses de Portugal ou de uma parte qualquer dos seus domínios.»
27 de Abril - O grupo de Afonso Costa domina o Congresso do Partido Democrático, realizado em Braga.
Maio - O Centro Académico de Democracia Cristã é reactivado, com uma direcção formada por Gonçalves Cerejeira, Oliveira Salazar e Pacheco de Amorim.
Maio / Junho - Greve da Carris que dura 26 dias.
16 de Junho - Tomada de posse do 3.º governo constitucional da República, dirigido por Duarte Leite, e constituído por tês membros do partido democrático, 2 evolucionistas e um independente.
6 e 7 de Julho - As forças monárquicas de Paiva Couceiro entram, pela segunda vez, em Portugal tentando tomar a praça de Valença, o que não conseguem. Entrarão no dia seguinte em Trás-os-Montes tentando capturar Chaves.
8 de Julho - Combate de Chaves. Os monárquicos são completamente desbaratados, deixando alguns mortos e feridos no campo.
10 de Julho - Os projectos de construção dos caminhos-de-ferro de Benguela, em Angola, e da Zambézia, em Moçambique, são aprovados.
8 de Agosto - O governador Norton de Matos funda a cidade de Nova Lisboa, actual Huambo, em Angola.

Agosto - Realiza-se em Évora o 1.º Congresso dos Trabalhadores Rurais.
10 de Novembro - Afonso Costa, discursando em Santarém, afirma que «neste momento, em que vai talvez dar-se uma conflagração europeia ... nós não sabemos ainda qual terá de ser o nosso papel, porque não está definida verdadeiramente a natureza, a extensão, os efeitos da nossa aliança com a Inglaterra.»
18 de Dezembro - Um relatório secreto do Estado-Maior da Marinha britânica, conclui que Portugal não tinha para a Grã-Bretanha grande valor estratégico, desde que os seus territórios atlânticos não caíssem nas mãos de potências hostis.
1913
9 de Janeiro - Tomada de posse do 1.º governo Afonso Costa, formado unicamente por membros do partido democrático.
24 de Janeiro - A organização da Cruz Vermelha Portuguesa é aprovada.
21 de Fevereiro - Confirmam-se as suspeitas de existência de negociações, entre a Grã-Bretanha e a Alemanha, sobre a remodelação do tratado anglo-alemão de 30 de Agosto de 1898, que de facto tratava da partilha das colónias portuguesas.
5 de Março - Lisboa informa os embaixadores de Paris e de Berlim da sua adesão ao Acordo Franco-Alemão de 4 de Novembro de 1911, que pôs fim à segunda crise marroquina.
Abril - Reunião do 2.º Congresso dos Operários Agrícolas, em Évora.
27 de Abril - Tentativa revolucionária contra o primeiro governo presidido por Afonso Costa. É a primeira vez que republicanos participam num golpe contra um governo republicano.
28 de Abril - A publicação de vários jornais de Lisboa é suspensa.
10 de Junho - Lançamento de bombas sobre o cortejo de homenagem a Camões, que era constituído fundamentalmente por crianças.
21 de Junho - Promulgação de uma lei que impõe a aplicação no novo sistema monetário aprovado em 1911.
30 de Junho - A lei orçamental autoriza o governo a criar a Faculdade de Ciências Económicas e Políticas, previsto na Constituição Universitária de 1911, com o nome de Faculdade de Estudos Sociais e de Direito. O seu primeiro director será Afonso Costa. Só em 1918 adoptará o nome de Faculdade de Direito.
3 de Julho - O governo Afonso Costa retira o direito de voto aos chefes de família analfabetos. O sufrágio universal continua a não ser aplicado em Portugal, ao contrário de países como a Alemanha, Itália, Áustria, Montenegro, Suécia e Suiça. O número de eleitores continua igual ao existente no tempo da monarquia.
7 de Julho - Tentativa revolucionária radical com assalto ao Quartel de Marinheiros. É criado o Ministério da Instrução Pública.
10 de Julho - O governo corta as relações com o Vaticano e fecha a embaixada de Portugal junto da Santa Sé.
20 de Julho - Tentativas monárquicas de assalto a vários quartéis de Lisboa, contra os quais foram arremessadas bombas explosivas.
31 de Julho - Por meio de um ofício secreto, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Edward Grey, informa o seu embaixador em Portugal, Arthur Hardinge, de que o governo da Grã-Bretanha «opor-se-ia à intervenção de qualquer outra potência excepto a Espanha» nos assuntos portugueses.
8 de Agosto - 1.º Congresso do Partido Evolucionista.
13 de Agosto - É rubricado, com vista a posterior assinatura e ratificação, um novo Acordo Anglo-Alemão, que não só renovava as cláusulas do acordo de 1898 sobre as colónias portuguesas, acordo realizado no âmbito do pedido de empréstimo português após a bancarrota, mas também estabelecia uma nova partilha territorial, assim como alargava os fundamentos de intervenção.
23 de Agosto - Promulgação do novo Código Administrativo.
14 de Outubro - O jornal O Dia publica, reproduzindo o Daily Telegraph londrino, as supostas bases do acordo franco-espanhol de Cartagena em que a França permitiria que a Espanha de Afonso XIII, de acordo com uma hipotética base VIII, pudesse reclamar uma intervenção directa em Portugal, motivada pela progressão da anarquia política no país.
20 de Outubro - Nova tentativa de revolução monárquica levada a cabo por civis e liderada por João de Azevedo Coutinho.
- O texto definitivo do Acordo Anglo-Alemão de Agosto de 1913 é rubricado. O desmembramento e partilha das colónias portuguesas torna-se uma ameaça cada vez mais real.
16 de Novembro - Eleições suplementares para o Parlamento, com vitória do Partido Democrático que obtêm a maioria absoluta na Câmara dos Deputados.
9 de Dezembro - O ministro dos negócios estrangeiros alemão, fazendo no Reichtag o discurso anual sobre política externa, torna pública a existência de negociações com a Grã-Bretanha sobre as colónias portuguesas e prevê o êxito das mesmas.
16 de Dezembro - O embaixador português em Londres, Teixeira Gomes, consegue que o governo britânico se comprometa a não assinar o acordo anglo-alemão sem o requisito prévio da sua publicação. O que não interessava ao governo alemão.
1914
26 de Janeiro - Realiza-se uma manifestação a favor de Afonso Costa, assim como uma contra-manifestação promovida por Machados Santos.
9 de Fevereiro - O governo chefiado por Bernardino Machado toma posse, tentando ser um governo de reconciliação nacional. Propõem-se rever a lei da separação entre o Estado e a Igreja.
10 de Fevereiro - O embaixador francês em Londres, Paul Cambon, faz notar à Grã-Bretanha que a publicação do acordo anglo-alemão de Outubro de 1913 sobre as colónias portuguesas, tornava significativa a aproximação anglo-alemã, o que implicava o enfraquecimento da «Entente Cordiale» entre Paris e Londres.
22 de Fevereiro - Amnistia para os monárquicos, em que se inclui o bispo do Porto, punido por ter desobedecido à proibição de de ler nas missas a pastoral de Fevereiro de 1911.
14 de Março - Criação da União Operária Nacional, no decurso do Congresso Operário realizado em Tomar.
8 de Abril - Criação da Junta Central do Integralismo Lusitano, que publica um manifesto no primeiro número da revista Nação Portuguesa.
23 de Junho - 2.º governo dirigido por Bernardino Machado. Governo extrapartidário tendo por principal função a marcação e organização das eleições parlamentares.
28 de Junho - O arquiduque Francisco Fernando, herdeiro presuntivo do imperador austro-húngaro Francisco José, é assassinado em Sarajevo, capital da província da Bósnia-Herzegovina, por revolucionários sérvios..
- Discute-se no parlamento português o orçamento do ministério da Guerra. O ministro confidencia a um dos deputados, sobre o que o exército tinha ou não tinha para assegurar a defesa nacional: «Não digo que tem pouco, digo que não tem nada».
28 de Julho - A Alemanha acede a assinar o Acordo Anglo-Alemão sobre as colónias portuguesas nos termos pretendidos pela Grã-Bretanha.
- A Áustria-Hungria declara guerra à Sérvia. A Rússia mobiliza, dando início às movimentações que levarão ao desencadear em 4 de Agosto da Primeira Guerra Mundial.1 de Agosto - A Alemanha declara a guerra à Rússia.
- A França ordena a mobilização geral dos exércitos.
3 de Agosto - A Alemanha declara a guerra à França, e invade o Luxemburgo e a Bélgica.
- O governo britânico entrega uma carta ao embaixador de Portugal em Londres, instando junto do «Governo português para se abster, por agora, de publicar qualquer declaração de neutralidade».- Uma multidão junta-se à porta do Banco de Portugal, para trocar as notas por metal, provocando uma crise financeira temporária. O montante das trocas diárias vai diminuindo ao longo dos dias seguintes.
4 de Agosto - A Grã-Bretanha declara a guerra à Alemanha, devido à violação do Tratado de 1831 que declarava a Bélgica território neutral perpetuamente.
- O governo britânico informa oficialmente o governo português, por intermédio do seu embaixador em Lisboa, que «em caso de ataque da Alemanha contra qualquer possessão portuguesa, o Governo de Sua Majestade considerar-se-á ligado por estipulações da aliança anglo-portuguesa».7 de Agosto - Devido ao deflagrar da 1.ª Guerra Mundial, o Congresso da República, reunido extraordinariamente aprova um documento de intenções sobre a condução da política externa. Afirma-se que Portugal não faltaria aos seus compromissos internacionais, sobretudo no que diz respeito à Aliança Luso-Britânica.
12 de Agosto - É decidida a organização de uma expedição militar com destino a Angola e a Moçambique.
- É assinado o Tratado de Comércio e Navegação Luso-Britânico.
- A França e a Grã-Bretanha declaram a guerra à Áustria-Hungria.- O Japão declara a guerra à Alemanha.
18 de Agosto - É decidida a organização de uma expedição militar com destino a Angola e a Moçambique
25 de Agosto - Em Moçambique dá-se o primeiro incidente de fronteira, com o ataque alemão ao posto fronteiriço de Maziúa, na fronteira do Rovuma, tendo sido morto o chefe do posto e sendo incendiado o posto e as palhotas vizinhas.
11 de Setembro - Partida de Lisboa de uma expedição militar, comandada pelo tenente-coronel Alves Roçadas, com destino a Angola.
- Partida de um corpo expedicionário para Moçambique. O posto fronteiriço de Mazúa, na fronteira de Moçambique com a África Oriental Alemã (actual Tânzania) tinha sido novamente atacado.18 de Setembro - Tumultos e assaltos a lojas em Lisboa e no Porto, devido ao aumento do custo de vida.
1 de Outubro - As forças expedicionárias do comando de Alves Roçadas desembarcam em Moçamedes, no Sul de Angola. A força era composta de 1 batalhão de infantaria, 1 pelotão de metralhadoras, 1 bateria de artilharia e 1 esquadrão de cavalaria.
10 de Outubro - O governo britânico, invocando a antiga aliança, «formalmente convida o Governo Português a deixar a sua atitude de neutralidade, e enfileirar activamente ao lado da Grã-Bretanha e dos seus aliados.»
19 de Outubro - Partida de uma missão militar, composta pelos capitães Ivens Ferraz, Fernando Freiria e Azambuja Martins para conferenciar com o estado-maior britânico.
- Incidente de fronteira em Naulila, no sul de Angola. São mortos três alemães, parte de uma missão, que tinha entrado na província sem autorização, e acampado na margem esquerda do Cunene, mas já no território da província.
20 de Outubro - Movimentos revolucionários monárquicos em Mafra e Bragança. Declaram-se contra a participação de Portugal na Guerra.
- O Partido Socialista promove uma manifestação de apoio ao Aliados.
22 de Outubro - As forças expedicionárias de Alves Roçadas e forças provinciais acabam a sua concentração em Lubango, no planalto de Moçamedes, preparando a defesa do sul de Angola contra quaisquer investidas de tropas vinda da África Alemã do Sudoeste.
30 de Outubro - Massacre de Cuangar. O posto português de Cuangar, na margem esquerda do rio Cubango, no Sul de Angola, é atacado por alemães armados de metralhadoras. São mortos dois oficiais, um sargento, cinco soldados europeus e treze africanos, o comerciante Sousa Machado e uma mulher, num total de 22 pessoas.
31 de Outubro - Alves Roçadas determina a organização das chamadas Forças em operações ao Sul de Angola, com as forças expedicionárias e forças da província.
1 de Novembro - A primeira expedição portuguesa para Moçambique desembarca em Porto Amélia, no norte da colónia. Era composta por 1 batalhão, 1 bateria e 1 esquadrão.
5 de Novembro - Forças militares de reforço da guarnição portuguesa em Angola partem de Lisboa, comandadas pelo capitão-tenente Coriolano da Costa, devido a incidentes graves com tropas alemãs na fronteira.
17 de Novembro - É proibida a subida ao palco de uma revista, no Teatro da Rua dos Condes, por dar um quadro pouco abonatório do exército português.
23 de Novembro - Reunião extraordinária do Congresso da República em que o governo é autorizado a participar na guerra ao lado da Grã-Bretanha, e a ceder desde logo 20.000 espingardas com 600 cartuchos cada uma e 56 peças de artilharia pedidas pelo governo britânico.
12 de Dezembro - Ministério dos «Miseráveis», presidido por Vítor Hugo de Azevedo Coutinho. Só sobreviveu até 25 de Janeiro do ano seguinte.
12 e 13 de Dezembro - Encontros entre patrulhas portuguesas e alemãs, no Sul de Angola, com troca de tiros.
17 de Dezembro - Forças alemãs, sob o comando do major Frank, acampam nas margens do Cunene.
18 de Dezembro - Combate de Naulila. As forças alemãs atacam as portuguesas obrigando-as a retirar, em direcção a Humbe, no Sul de Angola. Morrem 3 oficiais e 66 sargentos e soldados.
19 de Dezembro - As forças portuguesas abandonam Humbe, depois do paiol do Forte Roçadas ter explodido. Retiram mais para norte, para Gambos, com intenção de defender Lubango, no Sul de Angola.
- Motivados pelos combates entre forças europeias, as populações africanas da Huíla, no Sul de Angola, revoltam-se. São dirigidas pelo soba Mandume, da terra Cuanhama.

1915
15 de Janeiro - O presidente da república, Manuel de Arriaga, reúne os principais dirigentes políticos para ouvir a sua opinião sobre a política seguida pelo Partido Democrático, de Afonso Costa, de empurrar Portugal para a guerra.
20 e 21 de Janeiro - «Movimento das Espadas». A maior parte dos oficiais da guarnição de Lisboa, chefiados por Machado Santos e Pimenta de Castro, protesta por considerar que a demissão de um seu colega, o major João Craveiro Lopes, foi efectuada por motivos políticos.
20 e 21 de Janeiro - «Movimento das Espadas». A maior parte dos oficiais da guarnição de Lisboa,
23 de Janeiro - Aprovação do Tratado de Comércio e Navegação entre Portugal e a Grã-Bretanha.
25 de Janeiro - O presidente da república, Manuel de Arriaga, demite o governo do partido democrático e encarrega, em ditadura, isto é, sem que o Congresso tivesse em sessão, o general Pimenta de Castro de formar um novo governo com intenção de preparar eleições. A participação dos militares nos assuntos políticos torna-se cada vez maior.
3 de Fevereiro - Mais expedições militares partem para Angola, para fazer frente aos ataques constantes das forças alemãs.
7 de Fevereiro - É sagrado bispo do Funchal, D. António Manuel Pereira Ribeiro, a primeira sagração episcopal da República.
3 de Março - O aumento do preço do pão provoca assaltos às padarias e tumultos um pouco por todo o país.
4 de Março - Os deputados do Partido Democrático de Afonso Costa são proibidos de entrar no Parlamento. Os deputados e senadores democráticos reunidos em Loures, no Palácio da Mitra, aprovam uma moção declarando o ministério fora-da-lei.
20 de Abril - Amnistia para todos os presos políticos.
22 de Abril - Os vereadores da Câmara Municipal de Lisboa são intimados a ceder o lugar à Comissão Administrativa nomeado pelo governo. São presos por terem recusados.
23 de Abril - São demitidas pelo governo várias câmaras municpais do País, sendo substituídas por comissões administrativas.
10 de Maio - Grandes manifestações republicanas em Lisboa.
14 de Maio - Em Lisboa, grupos tumultuosos de pessoas assaltam armazéns e padarias à procura de comida. Aproveitando a situação republicanos civis e militares levam a efeito um movimento revolucionário que provoca centenas de mortos e feridos.
15 de Maio - O governo ditatorial de Pimenta de Castro é demitido, sendo nomeado João Chagas para formar o novo ministério. O general Norton de Matos é escolhido para ministro da Guerra.
17 de Maio - Devido a um atentado no Entroncamento à vida de João Chagas, que fica gravemente ferido e cego de um olho, José Ribeiro de Castro é nomeado chefe do governo.
29 de Maio - Teófilo Braga é nomeado presidente da república interino, devido à demissão no dia 15 de Maio de Manuel de Arriaga.
13 de Junho - O Partido Democrático ganha as eleições legislativas, obtendo a maioria absoluta.
1 de Julho - Nova Lei Eleitoral. Os militares no activo passam a ter direito de voto. Os analfabetos continuam a não poder votar.
3 de Julho - Afonso Costa sofre um traumatismo craniano quando se atira para fora de um eléctrico devido ao medo de um atentado bombista.
4 de Agosto - O governo é autorizado a contrair dois empréstimos, destinados a fazer face ao aumento das despesas com as forças expedicionárias enviadas para as colónias.
6 de Agosto - Bernardino Machado é eleito Presidente da República.
29 de Novembro - Afonso Costa, restabelecido de uma fractura do crânio, é nomeado chefe do governo, constituído unicamente por membros do Partido Democrático.

[Retirado de O Portal da História]