sexta-feira, 1 de junho de 2007

Apresentação da Fotobiografia

Prezados convidados,

Agradecemos a todos a presença na sessão de lançamento deste livro sobre o matemático António Aniceto Monteiro no dia em que se completam 100 anos sobre o seu nascimento.
Esta fotobiografia está organizada de forma cronológica, com os capítulos balizados por anos significativos de modo a formarem uma cobertura aberta de uma vida compacta na sua peregrinação por cinco países de três continentes.
Nasceu em Mossâmedes, no sul da Angola, em 1907, em plena guerra, cujas motivações próximas remontam ao final de 1884, e faleceu em Bahía Blanca, na Argentina, em 1980, em plena ditadura militar, quando esta o impedira de entrar nas instalações da Universidade da qual era o único professor emérito.
Entre estas duas datas foi sempre testemunha presencial de muitos acontecimentos históricos importantes nos países onde viveu, dos quais destaco a ascenção do fascismo em Portugal, que haveria de o obrigar ao exílio, por se recusar a assinar a célebre declaração contida no decreto-lei nº 27 003 de 14 de Setembro de 1936, o que determinou que nunca tenha sido Professor de uma Universidade portuguesa.
Apesar de todas as dificuldades, e foram tremendas, realizou uma obra científica notável e teve um comportamento cívico exemplar, talvez sem paralelo em Portugal, do que esta Fotobiografia tenta dar uma panorâmica. Digo “tenta”, porque foi elaborada em circunstâncias muito complexas, entre a Argentina, Portugal e outros países onde o matemático viveu, e também porque a vida toda de um homem nunca cabe num livro.

Este livro tem um título (António Aniceto Monteiro) e dois subtítulos: Uma fotobiografia a várias vozes / Una fotobiografía a varias voces.
Logo aqui é dado o tom – não é um só idioma. Por um lado, porque está escrito em português e castelhano. Por outro lado, porque contém a palavra várias/varias nas duas línguas.
É um livro a várias vozes, várias línguas com os seus diferentes sotaques, vários continentes, vários países, várias épocas, várias formas de expressão (escrita, plástica, fotográfica, documental, matemática, etc.).
A maior parte das vozes são as daqueles que conheceram pessoalmente António Aniceto Monteiro e que escreveram textos sobre ele. Estes já estavam escritos na sua maioria e foram escolhidos excertos para os diferentes capítulos de forma a respeitar os autores, respeitar António Aniceto Monteiro e – porque não? – respeitar todos os seus companheiros sobre os quais é, também, a fotobiografia.
Consequentemente procurou-se que estes depoimentos escritos fossem tão fiéis quanto possível aos originais. Os que estavam escritos em inglês, ficaram em inglês, os que estavam escritos em português do Brasil, assim ficaram, etc. A mesma coisa para o castelhano da Argentina. As legendas das fotografias são todas em português.
Não estranhem que a mesma palavra apareça escrita de maneiras diferentes. Por exemplo, aparecem três grafias distintas para “António”. São as que se usam em Portugal, no Brasil e na Argentina.

A fotobiografia começa com uma citação de António Aniceto Monteiro em português, feita no Porto, e acaba com uma adaptação de outra citação sua, em castelhano, feita em Bahía Blanca pouco antes de falecer.
Entre essas duas citações é como se o livro pertencesse às várias vozes, às várias pessoas, nas quais se inclui António Aniceto Monteiro.

Para que fosse possível editar este livro, a intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e da Sociedade Portuguesa de Matemática foi indispensável. Sem estas instituições ele não teria saído e, por tal motivo, um agradecimento lhes é devido nas pessoas dos Professores João Caraça, Diogo de Lucena, João Sentieiro, Nuno Crato e Catarina Santa-Clara.
Queremos agradecer ainda a todos os que tornaram possível esta homenagem e que estão listados no livro.
Um pessoa só vale muito pouco, e sem a colaboração de tantas e tantas pessoas e instituições a fotobiografia nunca teria sido feita. As vozes do título também são as delas.
A todos, muito obrigado.

Lisboa, 31 de Maio de 2007
Jorge Rezende