quarta-feira, 14 de março de 2018

«O António Aniceto Monteiro e a Lídia em nossa casa!» – diário de Mário Dionísio, de 19 de Maio de 1977

19.5.77.
O António Aniceto Monteiro e a Lídia em nossa casa! Das quatro da tarde quase até às nove da noite. Não nos víamos (todos, porque a Lídia estivera aqui há algum tempo), já lá vão 32 anos! 0 Monteiro não tem, naturalmente, a vivacidade de outrora. Conta hoje 70 anos. Mas é como se nos não víssemos há semanas. O mesmo espírito, a mesma amizade. O tempo não chega para lhes contarmos tudo (tudo...) o que se tem passado e está passando por cá, para ouvirmos o que se passou e está passando por lá, na Argentina. Um fascismo que atinge os limites da selvajaria à luz do dia, como nunca, apesar de tudo, aqui conhecemos. Ele tornou-se aquilo que sempre esperámos: um matemático de projecção internacional. Foi mais um que o Estado Novo deitou fora. Eu continuo, como há 30 e tal anos, um homem que faz projectos, trabalha sempre, e não chega a realizar um décimo do que projecta. Mas que tarde realmente feliz, recordando e atiçando o belo fogo duma velha amizade que não morre e é, feitas as contas, o melhor que há na vida!
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Agradecimentos a Eduarda Dionísio